Zen

... in silence

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Avô U

2 anos. No dia de Natal faz 2 anos que o meu avô morreu. Morreu às 10h da manhã sozinho, no hospital. Morreu num dos dias em que era mais feliz. Na minha família a tradição é passar a noite de 25 todos juntos. Neste dia , avós, filhos e netos jantavam juntos a celebravam o Natal. E continuamos a jantar juntos. Já nem todos os filhos vão mas tentamos estar todos os netos. E a avó. Ainda tenho o número do meu avô no telemóvel. É a minha avó que o usa agora, mas mantenho no nome dele. Por vezes esqueço-me que já cá não está. E lembro-me de lhe ligar como muitas vezes o fazia para identificar algumas espécies de árvores e arbustos. Traz uma folha. Era sempre o que ouvia. Muito ao estilo british, usava um lenço no pescoço e uma boina na cabeça. A proteger a careca e a meia dúzia de cabelos. Nunca se atrasava, contrariamente à sua única neta. E 5 minutos depois da hora marcada já não o encontravam.
Não fui ao Brasil para ficar com ele. E ter a certeza que estava por cá no dia da operação. Numa das minhas visitas ao hospital, disse-me para ir embora. Dizia que não queria que acontecesse o mesmo que com o outro avô. Mas não saí enquanto não adormeceu. Preferia que morresse também nos meus braços a deixá-lo morrer sozinho. E lutou para se manter vivo. Ainda por mais uma semana. Quis visitá-lo antes de ir passar a véspera, dia 24, com a mãe. Queria dar-lhe um beijo e dizer-lhe até já, volto para o Natal aqui contigo. Mas não foi possível. E quando regressei no dia seguinte já foi tarde demais. Nesse ano não houve Natal. Não se trocaram prendas, não se ouviram risos, não houve brilho nos olhos, não houve a história do Lobo Azul. Não aguentei jantar com a família sem ele. Não queria acreditar que não o ia ver mais. O dia do funeral, foi também o dia de anos do filho mais velho, o meu pai. Nesse dia ainda jantamos juntos e demos as prendas de Natal e anos em silêncio. Lembro-me muitas vezes dele. Sinto a falta dele. Sinto falta das conversas, das histórias, das curiosidades, das lições de história, das discussões políticas e religiosas. E sobretudo dos mimos. Sempre fui a sua única neta.

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